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domingo, 14 de agosto de 2011

De 1910 a 1919: Os Primeiros Anos do Corinthians

Desde a sua origem, o Corinthians é um clube popular. Fundado por operários, conquistou a simpatia da classe menos favorecida de São Paulo, desafiou a lógica da elite reinante no futebol do início do século passado, provocou divergências e dissidências na Liga Paulista ao nela entrar com menos de 3 anos de fundação e obteve seu primeiro campeonato oficial com apenas 4 anos de existência.
1º de Setembro: O mundo será Preto e Branco – Fonte: Corinthians
Os pintores de parede Joaquim Ambrósio e Antônio Pereira, o sapateiro Rafael Perrone, o motorista Anselmo Correia e o trabalhador braçal Carlos Silva, foram os idealizadores, os “sonhadores” que deram o ponta pé inicial desse IMENSO JOGO que se chama SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA. À época o futebol era elitizado e reservado aos ricos e estudantes, restando apenas a várzea para os pobres e analfabetos. Foi aí que uma certa agremiação inglesa encantou esses homens humildes
 Em uma excursão pelo Brasil, um time inglês, o Corintihian Team, era a sensação do momento: havia goleado o tetracampeão carioca Fluminense Football Club por 8 a 0 e uma das maiores forças do futebol paulista, o Paulistano, por 5 a 2. Naquele 31 de agosto, esses cinco operários da Companhia de Estrada de Ferro São Paulo Railway assistiram a mais uma vitória do time londrino, por 2 a 0, contra o bicampeão paulista Associação Atlética das Palmeiras e, empolgados, decidiram fazer uma reunião no dia seguinte para a criação de um clube do povo, da classe trabalhadora, um time de várzea. Na altura do nº 34 da atual rua José Paulino (bairro do Bom Retiro, na capital paulista), em plena via pública, às oito e meia da noite, sob a luz de lampião, formaram a primeira diretoria do que viria a ser, cem anos depois, esse ENORME TIME, a nossa GIGANTE NAÇÃO CORINTHIANS.
Juntaram-se aos cinco, o pintor César Nunes, o fundidor Alexandre Magnani, o macarroneiro Salvador Lapomo, o trabalhador braçal João da Silva e o alfaiate Antônio Nunes. Como o clube recém formado por homens humildes não contava com recursos e precisava de alguém de posses que o financiasse, o primeiro presidente foi Miguel Bataglia, um requintado alfaiate que aceitou esse encargo. Já o nome... foram sugeridos Santos Dummont, Carlos Gomes e Guarani sem consenso, quando Joaquim Ambrósio sugeriu a homenagem ao time londrino em excursão nas terras tupiniquins, o que foi aceito por todos e, na noite do dia 5 de setembro de 1910, sacramentado por Miguel Bataglia com a frase: “Está adotado o nome de Sport Club Corinthians Paulista para o nosso grêmio.”.
Para angariar recursos, foi feita uma campanha para associar os moradores do bairro e a primeira bola foi comprada com recursos arrecadados através de uma lista que percorreu o bairro, onde só poderia contribuir quem fosse associado, por exigência da diretoria do clube. O “Lenheiro” foi o primeiro campo do clube e foi capinado pelos próprios jogadores. Situado na atual rua José Paulino, o campo levou esse nome em razão de ter sido anteriormente um depósito de lenha.

Primeiros Jogos
No dia 10 de setembro de 1910, primeiro jogo e primeira derrota: União da Lapa 1 x 0 Corinthians. Quatro dias depois, o segundo jogo, e a primeira vitória, foi Corinthians 2 x 0 Estrela Polar. A partir daí, dois anos de invencibilidade, o que levou à conquista da simpatia popular, um grande crescimento da torcida e rendeu um convite da Liga Paulista para disputar oficialmente um campeonato, tendo que antes, passar por uma eliminatória de dois jogos: Corinthians 1 x 0 Minas Gerais e Corinthians 4 x 0 São Paulo do Bexiga. Foi assim que, em 1913, o Corinthians participou do seu primeiro Paulistão.

Primeira formação do Corinthians – Fonte: Wikipédia
Nesse ano, Paulistano, AA das Palmeiras e Mackenzie abandonaram a Liga Paulista de Foot-Ball (LPF) e fundaram Associação Paulista de Sports Atléticos (APSA) para organizar um campeonato paralelo ao da LPF. O motivo? A LPF pretendia mandar os jogos do campeonato no Parque Antártica, enquanto o Paulistano insistia em seu campo, o Velódromo, e inclusão na Liga de dois clubes populares, da várzea paulistana: Sport Club Corinthians Paulista e Clube Atlético Ypiranga: era a elite contra o povão.

Da várzea aos Campeonatos Oficiais
Em sua estréia no Paulistão, o Corinthians não foi bem: quatro empates, três derrotas e apenas uma vitória; marcou oito vezes e levou dezesseis gols. 1913 também foi o ano em que surgiu seu primeiro escudo: as letras “C” e “P” maiúsculas. No ano seguinte, sua primeira glória: Campeão Paulista invicto com apenas quatro anos de existência: 10 vitórias em 10 jogos; 37 gols marcados e 9 gols tomados; Neco foi o artilheiro do Corinthians e do Campeonato com 12 gols marcados. Era o prenuncio do nascimento de uma Estrela Popular no Elitizado Futebol Paulista.
Primeiro time campeão paulista em 1914 - Fonte Wikipédia
 Em 1915, pretendendo uma vaga no campeonato da APSA, a liga rival, por promover maior destaque no futebol, o Corinthians abandonou a LPF. Sem conseguir vaga na Liga Elitista, tentou retornar à antiga mas já era tarde. Por não ter onde jogar, emprestou seus melhores jogadores e o resto do time passou a temporada fazendo amistosos no interior. Um detalhe: fundado em 26 de agosto de 1914, o Palestra Itália (que, em virtude da Segunda Guerra Mundial, em 1942 mudou o nome para Palmeiras), fez sua primeira partida quase 5 meses depois, em 24 de janeiro de 2015, e teve seu primeiro gol marcado por Bianco, o ex-capitão do Corinthians que, no ano anterior, havia levantado a primeira taça conquistada pelo Timão. A rivalidade começou entre as equipes, mesmo antes de disputarem a primeira partida em campo, quando Bianco trocou o Timão e pelo Palestra Itália, mas está marcado na história: o primeiro gol de nosso maior rival foi corintiano.
Bianco, protagonista de uma das maiores rivalidades do Futebol Mundial -  Fonte: Wikipédia

1915: CORINTHIANS, O “CAMPEÃO DOS CAMPEÕS”
Nesse momento, brindo a “Nação Corintiana” reproduzindo um trecho do livro CORINTHIANS: O TIME DA FIEL, dos jornalistas Orlando Duarte e João Bosco Tureta, esse último, corintiano de coração.
Os campeonatos da LPF e da Apea terminaram no fim de setembro de 1915. Em outubro, os jogadores cedidos pelo Corinthians já estavam de volta. Pelo lado da Liga (sete clubes), o Germânia fora campeão com dez vitórias, um empate e uma derrota. Já a AA das Palmeiras conquistara o torneio da Apea (seis times), tendo vencido nove das dez partidas disputadas e empatado a outra. Esses dois times foram os papões do ano.
Em 1915, atravessava séria crise financeira a Beneficência Espanhola, a qual prestara grande assistência durante várias das epidemias que grassavam em São Paulo. Para ajudá-la, a LPF e a Apea decidiram unir-se num jogo beneficente justamente entre aqueles que ainda seriam os respectivos campeões. Mas quanto renderia o encontro de duas equipes, Germânia e AA das Palmeiras, que não tinham boa torcida? Resolveram então fazer um torneio com três equipes e convidaram o Corinthians – que, embora não tendo disputado nenhuma competição naquele ano, arrastava multidões para seus jogos.
O Corinthians topou, julgando ser nobre a causa. Mas estaria ele preparado para enfrentar dois times tão fortes?
Em 1º de maio de 1915, veio o primeiro jogo, contra a AA das Palmeiras, no Velódromo, e o Corinthians mostrou futebol do mais alto nível: repetindo as grandes atuações de 1914, aplicou 3 a 0 com a  maior facilidade.
Contra o Germânia, o time da plebe fez 4 a 1 e conquistou seu segundo título (o primeiro, um campeonato oficial; este, um torneio beneficente). Por isso, quando se confirmaram os dois campeões oficiais daquele ano, a imprensa e os torcedores passaram a chamá-lo de “campeão dos campeões”. (pp. 51-52)

1916: O Retorno à LPF
Em 1916 o Corinthians voltou a disputar pela LPF com a equipe tendo a mesma base de 1914 e, novamente, foi campeão invicto: oito jogos e oito vitórias, uma por W.O., contra o Ruggerone Foot-ball Club. Em 1917, após as primeiras mudanças, o escudo corintiano ganhou o formato redondo que conservou até hoje. Naquele ano, a LPF foi extinta e todos os clubes passaram todos à Associação Paulista de Sports Atléticos (Apea), passando a denominar-se Associação Paulista de Esportes Atléticos e, pela primeira vez, com duas divisões: a primeira pelos clubes antigos da Apea e o Corinthians, por ter sido o campeão da LPF, e a segunda pelos demais clubes da LPF de 1916.
No ano de 1917, formou-se o chamado “trio de ferro”, com Paulistano, Palestra Itália e Corinthians dominando o campeonato e ficando respectivamente com essa colocação ao seu final. Foi também o ano do primeiro confronto contra os palestrinos, com nossa primeira derrota desse clássico por 3 a 0. No ano seguinte, o Corinthians foi vice campeão, com o Paulistano sagrando-se campeão. Nesse ano, o campeonato sofreu diversos cancelamentos de partidas em virtude da epidemia da gripe espanhola, que em nada influenciaram na decisão do título.
Em 1919, sagra-se pela primeira vez um tetracampeão paulista: novamente o Paulistano, tendo o Palestra Itália como vice. O Corinthians ficou apenas com a terceira colocação, como em 1917.
Próxima publicação da história do Corinthians: De 1920 a 1930: A Década Corintiana.
“O Corinthians não é um time que tem uma torcida,
O Corinthians é uma torcida que tem um time!”
Artur dos Santos Saldanha

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